segunda-feira, 2 de março de 2009

Morangos, poeira e cansaço

Típico nordestino do sertão. Baixa estatura, pernas finas e ventre avantajado. Antônio da Silva, ou simplesmente Tonho. Cansara-se do sol escaldante, do chão seco, das poucas palavras, dos olhos semi-abertos, do trabalho pesado, da mulher magra. Acordou num certo dia e resolveu. “Partirei, aqui não fico mais.” Apesar do hábito, da convivência diária, saiu antes do sol nascer, sem se despedir da mulher. Botou uma blusa de linho branca, uma calça, um terço, e algum dinheiro numa trouxa. Andou, andou e andou um pouco mais. Sempre as mesmas casas de taipa, as mesmas pessoas cabisbaixas, os mesmo choros de crianças com fome. “Não chegaria nunca a lugar nenhum?” Já estava desistindo, no momento de virar o corpo para percorrer o mesmo caminho ao contrário, quando viu. Algo verde, muito verde. Essa cor não fazia parte da sua rotina, por isso parou. Arriscou chegar perto. Uns pontos vermelhos no meio daquele verde todo. Morangos. “Como podia um campo de morangos no meio de toda aquela poeira e cansaço?” Resolveu não pensar. Achara o que procurara durante toda a vida. A vida.

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