quinta-feira, 26 de março de 2009

Batom rosa

Ontem, enquanto voltava do RPG, andando pela calçadinha, uma mulher me aborda perguntando: “ Você vai caminhar até o final?”, eu respondo que só vou um pouco mais adiante, e ela: “ Então vamos andar juntas.” Achei estranho, mas tudo bem. Lá fui eu andando com ela. Tinha 36 anos, cabelos mais loiros que tudo no mundo e um batom rosa. Devido ao batom rosa (sem preconceito algum) comecei a duvidar da sua sanidade. Ela falava todo o percurso, tendo eu tempo apenas para uns “éé, hmm, tens razão” de vez em quando. Ela falava sobre um acidente que ocorrera há uma semana, que queria por que queria saber o que acontecera ao garoto. Ela estava quase afirmando a existência de algo escabroso por trás do acidente. “ Tudo está muito estranho, ninguém comenta sobre o acidente. Será que ele morreu ou está no hospital? Será que ele se jogou embaixo do caminhão?” Não sabia responder nenhum daquelas perguntas. Depois o rumo da conversa mudou. “ Não sei aonde esse mundo vai parar. Todo mundo só quer saber de farrar, beber, drogar-se. Ainda bem que não nasci nesse tempo.”
Cheguei em frente a minha casa, e eu tive que dizer tchau e atravessar a rua. Ela me disse o nome duas vezes, mas eu não me lembro. Ela disse que foi um prazer me conhecer e que eu parecia uma bonequinha. Ao chegar em casa fiquei pensando que talvez o batom rosa não significasse necessariamente só loucura. Talvez fosse para disfarçar a solidão. Talvez ela estivesse querendo dizer tudo que ela disse pra alguém e não tivesse ninguém por perto. Talvez ela tenha sido, na verdade, corajosa. Será que se, algum dia, eu for tão sozinha quanto ela, terei coragem de abordar uma estranha e usar um batom rosa para aliviá-la um pouco?

2 comentários:

  1. me aborda, me aborda !!! eu vou gostar de andar na calçadinha contigo, de ouvir da tua boca rosa coisas da vida-vidinha.

    :*********

    tãst

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  2. gostei mesmo. faz refletir sobre muita coisa.

    Jacy

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